João Martioro: Obscuras Saudações! É com imensurável Honra que apresentamos a entrevista por mim redigida ao guerreiro Matheus Rodrigues, um dos mentores do BRUTAL MORTICÍNIO, banda de Novo Hamburgo - RS, que vem mostrando o potencial do verdadeiro Metal Negro brasileiro, abordando uma temática lírica e ideológica extremamente coesa, e muito bem embasada, prezando pelo real princípio do Black Metal: LIBERDADE! Liberdade de dogmas fúteis que norteiam a vida de muitos, liberdade da dominação ideológica e da hegemonia, quebrando paradigmas e analisando os fatos de um prisma diferente, libertando dos grilhões do câncer cristão. Confiram! Boa leitura guerreiros e guerreiras! Força e Honra!
Ruído Macabro: Saudações Extremas Matheus! Nos conte um
pouco sobre os primórdios da Horda.
Matheus: Saudações, primeiramente gostaria de
agradecer ao espaço dedicado à banda em seu zine. A banda foi formada
por mim e por Mielikki em 2006 com o intuito de ter um trabalho mais
direcionado para o Black Metal old school. Com letras que falassem sobre as
lutas, a história e da cultura nativa, não só do Brasil como de todos os povos
de nossa América. Existe uma grande gama
de hordas que falam sobre a cultura nórdica ou celta, sentíamos falta de bandas
que falassem sobre a cultura dos povos nativos da América de maneira um pouco
mais aprofundada e também que fizesse este paralelo entre o passado e presente,
tratando o tema com outro prisma, não apenas como um relato ou simples
mitologia, mas como algo vivo, como um real instrumento de luta.
Do ponto de vista musical sempre apreciamos as hordas antigas como Bathory,
Sarcófago, Darkthrone, e sempre tivemos
o intuito de fazer algo que remetesse a crueza, sobretudo das hordas dos primórdios do Black Metal.
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Ruído Macabro: Sobre sua ideologia, o que tem a nos explicitar?
Ruído Macabro: Sobre sua ideologia, o que tem a nos explicitar?
Matheus: Como havia comentado anteriormente, no momento em que
formamos a BM haviam muitas bandas , inclusive brasileiras, que abordavam temas
como a cultura nórdica. Muitas hordas realmente têm muita propriedade no que
falam, com letras que são muito boas e profundas, mas no meu ponto de vista,
era ainda necessário que houvesse outros temas dentro do Black Metal. Que
tradicionalmente, aborda o satanismo e o ocultismo. Outro ponto, em que eu particularmente, não
consigo ainda compreender muito bem, é como encontraram terreno tão abrangente
entre o metal extremo a direita política e seus ismos. Particularmente sou intransigentemente
contra estas posturas racistas e de extrema direita e acho que não tem nada a
ver com o espírito do metal ou com o próprio satanismo, temas tão recorrentes
em nosso meio. Resumidamente posso dizer que a opinião da banda é absolutamente
contra o racismo e favorável a organização dos povos sul americanos numa só
nação tendo por base os costumes dos povos nativos, erradicando imediatamente
quaisquer resquícios de capitalismo e de cultura hegemônica cristã.
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Ruído Macabro: Quais são suas principais
influências filosóficas e musicais?
Matheus: Como influencia musical, não só de minha parte, mas
também dos outros membros da banda, posso apontar as bandas antigas de metal
extremo e principalmente do Black metal como Bathory, Dissection, Darkthrone, Hellhammer,
Bethlehem , entre outras, desta mesma
linha extrema e macabra. Somos também profundamente influenciados pelas bandas
nacionais como o Sarcófago, Amen Corner, Holocausto, Chackal. Ultimamente tenho
escutado bastante bandas de DSBM como Nocturnal Depression, Aras, Thy Light,
Cry of Silence....
Posso apontar entre as principais influências
filosóficas: O trabalho de Eduardo Galeano, em sua reflexão sobre as temáticas
indígenas e latino americanas, o discurso do cacique Guaicicuro Cuautemoc sobre
a dívida da Europa com a América Latina, além de autores clássicos como
Hobsbawn, Tolstói, Whilhelm Reich, Alan Poe e Augusto dos Anjos.
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Ruído Macabro: Os trabalhos do Brutal
Morticínio são ideologicamente muito ricos. Em que buscam embasamento para essa
temática lírica?
Matheus: A idéia central na parte de temática lírica da banda é
tentar traçar algo que, apesar de influenciado pelo metal de outras partes do
planeta, soe como algo próprio de nossa terra . O desafio é mais ou menos este,
falar sobre a nossa cultura, a luta de libertação dos povos latino- americanos,
entretanto ele não é substancialmente diferente da luta dos povos por sua
libertação em outras partes do mundo. É algo que fica entre o regional e o
universal, as nossas músicas estão em português, pois acreditamos estar inseridos
em uma cultura e soaria falso para a Brutal Morticínio ter o seu trabalho em
outro idioma. Procuramos, entretanto, versar as músicas também em inglês para
que as pessoas de língua não portuguesa tenham conhecimento, ainda que
superficial, sobre as nossas lutas, história, enfim sobre o que estamos
cantando.
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Ruído Macabro: Ainda sobre a temática
lírica, o Brutal Morticínio nos presenteou com um trabalho que ressalta a
cultura indígena brasileira. O que os motivou a idealizar esse trabalho?
Matheus: Existem bandas muito boas que falam sobre
a temática celta ou viking, inclusive brasileiras, mas muito poucas que falam
sobre a cultura indígena. Falamos de um
ponto de vista não puramente mitológico ou do passado, procuramos estabelecer
as suas relações com o atual momento, seus reflexos, suas injustiças. A idéia
da banda não é apenas ouvir um pedido piegas de desculpas por parte dos descendentes
dos responsáveis, tentar desfazer esta cortina de fumaça, ajudar a estabelecer
a luta atual contra estas mesmas castas que se apossaram de nosso território a
mais de 500 anos e que ainda estão por aqui parasitando.
1 Ruído Macabro: Onde o apreciador de metal extremo pode
encontrar os artefatos do Brutal Morticínio para aquisição?
Matheus: Já faz algum tempo que o material que estava
disponível na rede foi ficando um pouco mais difícil para baixar,
consequentemente se tornando um tanto mais raro. Relançamos no ano passado o nosso
CD de estreia, “Despertar dos chacais... O outono dos povos” ele pode ser adquirido por algumas distros
entre elas: Dedé Gore Records, Lua Negra
Distro, Violent Records, Anaites Records, Rotten Foetus, Blasphemic Art, entre outras...
1 Ruído Macabro: E quanto ao novo trabalho?
Algo a nos adiantar?
Matheus: Estamos na fase de mixagem do álbum, estamos acertando
a sonoridade final, enfim agora falta pouco para o lançamento. Posso dizer que
o álbum foi iniciado 2 vezes com outras formações, por isso houve uma demora além do que
esperávamos.
A nossa influência musical está voltada para o Black
metal Old mesclado a algo mais depressive. O novo álbum deve soar um pouco
diferente do álbum de estréia, com uma pegada mais obscura e melancólica. A
bateria foi gravada em Porto Alegre e todos outros elementos em Caxias do Sul onde
está sendo finalizado por Roger Fingle.
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Ruído Macabro: Como avalia o meio extremo
nacional? Alguma banda a destacar?
Matheus:O que posso dizer irá parecer clichê, mas lá vai. A
cena no momento está bem diferente do que há alguns anos atrás. Aqui no RS
existem poucos lugares e poucos espaços para o metal extremo. A maioria é
controlada por uma pequena parcela que pouco abre para opiniões musicais e
ideológicas diferentes. Existem ainda bandas que acreditam no underground e
realmente se esforçam para agitar o mesmo, entretanto é cada vez maior o número
de bandas posers e de bandas com o comportamento mainstream. Existem
pouquíssimos shows de Black metal aqui na região metropolitana de Porto Alegre.
O público é cada vez mais reduzido e parece dar cada vez menos valor aos
trabalhos autorais das bandas, há uma supervalorização de bandas covers.
O que posso apontar como destaques positivos aqui na
cena da região as bandas Supersonic Brewer, a Evil Emperor e a Abate Macabro.
Curto bastante bandas de fora do RS como a Sodamned, a
Canifraz e a banda Ritos.
1 Ruído Macabro: Quais são as metas para o
Brutal Morticínio, a curto e longo prazo?
Matheus: Em curto prazo, no início de 2014,
pretendemos lançar o álbum intitulado “Obsessores espíritos das florestas
austrais”. Estamos bastante focados no
momento na conclusão do mesmo. Faltam ainda os detalhes da capa e a própria
etapa sonora de finalização. Pretendemos, logo após o lançamento do álbum, se
concentrar na divulgação do mesmo. Sobre
os shows, eles não estão fora de cogitação, entretanto no momento não está
entre as nossas metas uma tour para a divulgação deste álbum. Já tentamos realizar turnês, mas as coisas
no underground nunca são muito fáceis, principalmente para a realização de
shows. Se por um lado tornou-se mais fácil divulgar ou mesmo lançar um álbum
com uma boa tiragem e um material com uma boa qualidade, os shows/celebrações
estão ficando cada vez mais raros e conturbados.
1 Ruído Macabro: Para
finalizar, cite três trabalhos (álbuns, demos e etc.) que você considera
indispensáveis para qualquer apreciador do som extremo underground.
1 Ruído Macabro: Obrigado pelo tempo a nós disponibilizado!
O Brutal Morticínio tem nosso total suporte! HAIL CHAOS!
Matheus:Nós do Brutal Morticínio é que agradecemos o espaço que foi
dedicado a nossa horda. Sempre é bom relembrar que atitudes como esta é que
mantém o underground e o metal extremo vivo e independente, expressando os
reais valores e não submetidos ao mainstream em que se tornaram os portais de
“metal” da internet. O Ruído Macabro Zine
assim como os seus leitores tem nosso total apoio e admiração.
Força
e Honra ao metal Nacional!
Deixo ao final os contatos para aqueles que estiverem
interessados em algum material da banda ou mesmo trocar algumas idéias.
Email: brutalmortis@gmail.com